Fazia tempo que não indicava um livro por aqui, pois andei lendo coisas muito técnicas, específicas da minha área, como se pode ver pela lista de livros 2010, à direita.
Volto, porém, em grande estilo. Não por mim, mas pelo que vou indicar, claro!
A dica de hoje é A parede no escuro, de Altair Martins. O livro conta a história do atropelamento do padeiro Adorno pelo professor Emanuel, acidente (crime) sem testemunhas, já que ocorreu em uma madrugada de intenso temporal e sob um poste de luz cuja lâmpada estava queimada. A partir daí se desenrola a história, e vão sendo inseridos os demais personagens.
Méritos para a(s) linguagem(ns) e principalmente para as figuras e recursos de linguagem utilizados pelo autor. Enquanto a maioria dos mortais comuns (mesmo os metidos a escritor), ao descrever a água fervendo em uma chaleira, por exemplo, escreveria "no fogão, a água fervia dentro da chaleira", ou coisa parecida, Altair descreve a cena como: "De dentro da chaleira a água encontra seus meios de escapar".
Agora, o peculiar e interessante mesmo da obra é a existência não de um, mas vários narradores. Cada um vai colocando suas falas, pensamentos e pontos de vista, não havendo apresentação ou transição de um personagem-narrador a outro, a não ser uma linha em branco. Sendo a construção dos personagens (Emanuel com seu TOC, por exemplo) tão perfeita que sabemos direitinho quem está narrando a história a cada momento (quem não leu o livro deve ter achado estranho este "sendo" que coloquei, mas foi proposital, para incomodar e estimular o leitor do blog a ler o livro!).
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