terça-feira, 1 de setembro de 2009

Os dias passam quadrados - parte III (final)

Sinto que vou frustrar alguns leitores (no próximo post explico porquê), mas aí vai o desfecho desta saga.

Encerro agora a série com a outra coisa que me motivou a escrevê-la (além do cansaço).
Com toda esta rotina que descrevi, consigo pagar minhas contas e fazer uma ou outra coisinha. Com meu salário de professor.
Me indigna, me dá um ódio profundo ver que os senadores (como muitos deputados, etc.), não podem viver com o SALÁRIO que ganham???? Já ganham um salário absurdo (para padrões brasileiros ou não), contas de telefone pagas, moradia paga, carro e combustível, passagens, etc. Se ganham todas estas contas pagas, não precisavam ter um salário tão alto. Mas têm. E mesmo assim não é suficiente, dão jeito de 'arrumar' mais. E mais. E ainda não é suficiente. E olha o que eles "trabalham".
E não estão nem aí para o povo. Fazem coisas erradas, sabem que está errado e continuam fazendo. O povo aceita, tem memória curta e os reconduz ao poder. Reclama, mas vota de novo nos mesmos.
Me dói ver o duro que dou para sustentar um bando de parasitas se apropriarem do meu trabalho e da minha vida que se me esvai.
Me enche de raiva ver que quase meio ano de cada ano da minha 'vida' é para patrocinar a festa, as viagens, o luxo, o ócio e o desperdício de bandidos que nem conheço (e é bom que nem venha a conhecer).
Me consome a ideia de que eu tenha que abrir mão da minha vida para que os políticos possam viver a deles.
Me frustra a constatação de que o descaso (quase preconceito) pela educação seguramente é para que isso tudo ocorra. Descaso este que parte dos governos e que continua na mídia de massa, com grades que emburrecem o espectador ainda mais. Com toda uma ciência para apresentar as notícias, colocando as ruins no início do noticiário e terminando-o com uma matéria sobre a seleção, sobre algo "bonitinho" ou agradável. Reclama-se da vida no início do noticiário e no fim acha-se que está tudo bem. E depois, todos quietos: temos que ver quem, afinal, matou Odete Roitman!
Absurdo ver que em outras épocas, POR MUITO MENOS DO QUE OCORRE HOJE EM DIA, o povo ia para as ruas, manifestava-se, mostrava seu ódio, seu descontentamento, fazia agitações, etc. Hoje, com tudo o que vemos por aí (e com o que não vemos, mas sabemos) fica todo mundo quieto, ninguém faz nada...
E aí, ou se trabalha muito, como abordei nesta série, ou se dá o famoso "jeitinho brasileiro" para viver...
Não tem um jeito de MUDAR tudo isso?

5 comentários:

Anônimo disse...

isso realmente é um absurdo,falta de consideração...sei la faltam adjetvos pra essa PALHAÇADA que é o Brasil...
olha vc praticamente naum vive,tem como luxo assistir ao CQC,dar uma saida no domingo...como assim isso é o minimo que uma pessoa que trabalha tanto merece.
Naum sei se isso lhe conforta um pouco,mas acho que reconhecimento é sempre bom...
vc é uma das pessoas que mais admiro,principalmente depois desse desabafo,um professor que ta sempre com bom humor,prestativo,otimas aulas,etc.
obrigado por toda essa dedicação...
e tenho esperança que um dia(espero que esteja proximo)os professores terao o seu devido valor !
bjo
andressa.

Goliath Whalietric disse...

Talvez eu esteja errado... Mas sou eu um dos decepcionados? Serei um advogado do Diabo, ok?

Senão vejamos:
1) Escolhemos essa profissão, muito mais pelo amor, sabendo da pouca remuneração;

2) Sabíamos da frustração que ela poderia trazer, uma vez que conhecemos muito bem a educação que temos neste país;

3)Nos entregamos de corpo e alma, por que acima de tudo queremos isso, uma vez que achamos que faremos a diferença;

Com tudo isso, e mais outra dúzia de coisas que eu poderia dizer, será que temos razão de reclamar?

Querido amigo e comentaristas e seguidores do teu blog: de modo algum desdenho da tua indignação. Até porque, me conheces muito bem, devido ao contato particular que temos, te esclareci algumas coisas que vivo no momento.

Sei muito bem da tua dedicação, coisa que sempre fizeste e penso que, no fundo, o salário seja só a ponta do iceberg. Temos acima de tudo um sentimento profundo de querer fazer mais e melhor. Não nos contentamos com o a miséria e mediocridade que fazem da educação. Queremos sim, fazer a diferença.

Sabemos que o salário é pouco e que temos dificuldades tremendas para executar estas tarefas em detrimento inclusive de nossas vidas pessoais.

Mas é só o salário que te indigna? É só os políticos? Não te irrita muitas vezes estar dialogando com os alunos, dando o melhor de ti, e os mesmos alunos ou até mesmo colegas, chegarem com aquele papo de "faz o teu servicinho, feijão com arroz, não precisa inventar moda não, pois o que nos interessa é o dinheiro na conta ou o diploma no fim de tudo isso"?

Não te irrita saber que universidades são tão ou mais corporativistas e, muitas delas decidem simplesmente "passar" alunos inconvenientes para não se incomodar?

Não te irrita te preparar, te dedicar e depois de 5 aulas teus alunos te olharem e dizer "não sei fazer Sor"?

Não te irrita lutar tanto tempo contra a maré e ver que ela não muda? Que as pessoas decidem simplesmente fazer parte do sistema, porque é muito mais fácil?

Te digo meu amigo, da mesma forma que apelei para ti por email, existe algum jeito de MUDAR isso?

Sinceramente, talvez se decidirmos que do jeito que está, a coisa não vai. Talvez se decidirmos que os projetos pedagógicos devam mudar ou serem criados visando destruir o sistema compartimentado de disciplinas que temos. Talvez.

Mas quem sou eu pra isso? Só mais um professor, que chega mais uma vez frustrado porque uma turma hoje , a qual sempre dei liberdade e acima disso, companheirismo, decidiu que falta matéria escrita no caderno. E essa é, para um coordenador que ouviu isso, a melhor desculpa para adiar uma prova.

Achei que o ensino superior recebia esse nome por ser superior. Desculpe, mas se eu não encontrar uma forma de mudar isso, talvez eu realmente ceda, e concorde com o sistema.

Desculpe meu azedume. Mas as coisas também não tem ajudado muito ultimamente. Se nós, as ditas "cabeças iluminadas" deste país, não acreditamos nem em nós mesmos, será que ainda podemos reclamar?

Grande abraço.

Milton Morales disse...

Pensei em abordar a "trilogia" sob um prisma, mas fiquei tentado por abordar doutra forma, até mesmo pelas letras do amigo Goliath... e aí me dei conta que existem muitos prismas para se analisar o assunto, tanto por aquele mais particular (stricto sensu), do nosso amigo Mente Inquieta, quanto por aquele mais amplo (latu sensu), do amigo Goliath...

... acho que é complicado ignorar a questão do salário, que, ainda que pareça abordar um assunto complexo de forma meramente monetária, envolve DE FATO a forma como podemos viabilizar a nossa vida, seja para sair de casa, seja para ter o próprio canto, seja para casar, seja para ter filhos, seja para ter momentos de lazer, seja para o que for que cada um quiser proporcionar a si mesmo...

... penso que sim, assim como cartão de crédito, quando sabemos que se atrasarmos o pagamento pagaremos juros abusivos, a opção pelo magistério em qualquer âmbito envolve aceitar um salário baixo... o que não significa que seja necessário se curvar a isso, aceitar silenciosamente... ainda que muitos não gostem, que torçam o nariz, muita coisa muda de verdade com quem "bate panelas", seja nas ruas, seja na Internet, um universo que não pode mais ser ignorado como espaço de protesto, seja dentro do Congresso Nacional... o funcionalismo federal já se beneficia disso há algum tempo... basta buscar no tempo as melhoras havidas nos últimos 8 anos... se já está uma maravilha? Claro que não, mas melhorou pq existia gente "batendo panela"... ah, e mesmo os que torcem o nariz pra isso se beneficam, mas isso é papo para outra hora...

... não podemos ignorar, entretanto, que problemas existem na atividade profissional de qualquer pessoa... é claro que é complicado o "balé" que os professores têm de fazer, uma vez que lidam com muitas pessoas diariamente, mas também temos de considerar que isso existe em qualquer profissão... assim como em qualquer profissão temos momentos que nos fazem rir sem precisar tirar um extrato bancário, quando o nosso trabalho é verdadeiramente reconhecido... eu sou músico (entre outras coisas... hehehe), e o que alimenta muita da minha vontade de ainda seguir tentando, além do meu sonho, é o reconhecimento gratuito, afinal, invisto no meu sonho há muito tempo, sem ter tido muito o que por no bolso nesse tempo, em contra-partida...

... já escreví no meu blog que me preocupa a falta de respeito que parece haver hoje em dia da parte dos alunos com os professores... isso mostra quão doente está a questão da hierarquia, e já dentro de casa, com a edudação dos pais... eu vejo esse como um grande problema, um retrocesso do tempo em que fui aluno de primeiro grau... claro que além desse, existem outros problemas, como estrutura e salários, algo que já havia no meu tempo, mas não dá para se calar... é preciso "bater mais panelas"...

Abraços!

Goliath Whalietric disse...

Acho que o amigo Milton define tudo que eu quis dizer com a seguinte expressão: reconhecimento.

Abraços

Mente inquieta disse...

Seria um ÓTIMO começo.
Fico por aqui, pois respondo estes (e outros) comentários pela postagem a seguir.
Grande abraço a todos, do tamanho do meu sentimento e consideração por vocês!