Outra dica de livro. Um pouco diferente do que tenho indicado por aqui, como se pode deduzir pelo título do post.
Trata-se de "Vinho", de Jean-François Gautier. É da boa série Encyclopaedia, da L&PM. Boa porque tem bons títulos, e a preços bem acessíveis.
Quem gosta de ler, gosta de cultura geral e também de vinhos, não pode perder. O livro traça um panorama muito interessante do vinho ao longo da história, de sua presença em milhares de anos, nas mais variadas sociedades possíveis e em meio aos mais diferentes rituais - religiosos ou não. Aliás, é surpreendente ver o quanto o vinho esteve SEMPRE ligado à religião. De sua relação com a religião grega de Dionísio e com o Baco romano, além de sua presença nos rituais cristãos, possivelmente todos sabiam. Mas até em religiões/ comunidades nórdicas ou orientais o vinho foi inserido como parte ritualística importante. O livro traça um painel de tudo isso de uma maneira muito concisa e clara, acessível a todos, ao contrário do que acontece com alguns outros do gênero, que muitas vezes possuem uma linguagem excessivamente técnica e enfadonha.
Há ainda na obra uma interessante versão da Marselhesa (atual hino francês, da época da Revolução de 1789-1799): é a "Marselhesa do Bebum", cantada por revolucionários sans-culottes:
"Avante, filhos de La Courtille [antigo bairro francês que abrigava salões e espaços onde ocorriam os mais variados tipos de festas, casamentos,...]
o dia de beber chegou
é por nós que a morcilha grelha
é para nós que foi preparada
sentimos da cozinha
assar perus e pernis
de fato seríamos bem tolos
se lhes fizéssemos cara feia
À mesa, cidadãos, esvaziem todas as garrafas
bebei, bebei, que um vinho bem puro mata a sede de vossos pulmões"
(para conhecer e comparar com a letra original do Hino francês, clique aqui)
Enfim, o livro é barato, sobra até para comprar uma garrafa da bebida de Baco para degustar com a leitura!
Cultura, atualidades, alimento para a mente, os olhos e o espírito (ah, e a pança também!).
quinta-feira, 30 de setembro de 2010
segunda-feira, 27 de setembro de 2010
Para não esquecer
A "festa da democracia" sempre proporciona muito pano para a manga. Como não há tempo para tratar de tudo (e o que há para ser dito renderia novos blogs, e não simples posts) lembrarei de um caso. Nada que se compare ao do Tiririca, mas também patético. Trata-se do Sérgio Moraes, deputado federal pelo PTB. Aquele que no ano passado afirmou "se lixar" para a opinião pública. Aquele que fez, nos microfones do CQC, comentários bastante preconceituosos e homofóbicos. Eis que vem, com a humildade de uma Madre Teresa de Calcutá, pedir votos no horário político. Vem pedir o apoio do público eleitor, que ele mesmo enxovalhou.
Por favor, amigos eleitores, coerência na urna, ela não é privada.
Por favor, amigos eleitores, coerência na urna, ela não é privada.
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Festa da democracia,
Prêmio Sem Noção
quinta-feira, 23 de setembro de 2010
As mortes
Acho que encerrei os assuntos hospitalares já, o post de agora, apesar do nome, refere-se à literatura.
A dica de hoje é A morte e a morte de Quincas Berro D'Água, de Jorge Amado.
Li no hospital (olha ele aqui de novo), já um tanto intrigado de perceber que, em mais de 3 décadas de vida, embora conhecendo várias obras do escritor baiano, nunca havia lido nenhuma. Leitura bem apropriada ao local e à situação em que me encontrava: leve e divertida. Trata-se de uma novela, que narra a morte de Joaquim Soares da Cunha, respeitável funcionário da Mesa de Rendas Estadual, e de Quincas Berro D'água, 'rei dos vaabundos', 'senador da gafieira' e 'patriarca da zona dobaixo meretrício'. Na verdade, trata-se da mesma pessoa, que no entanto teve vidas tão diferentes. O correto marido e pai de família que, aos cinquenta anos, largou a casa e a família para viver na companhia dos vagabundos, boêmios, bêbados e prostitutas, é o personagem que dá vida (ops, cuja(s) morte(s)) à esta divertida história, com seus companheiros Mestre Manuel, Quitéria do Olho Arregalado, Negro Pastinha, Cabo Martim e Pé-de-Vento. São estes que, no velório, já bêbados, carregam o morto (que sorria) nos ombros, dão-lhe cachaça e levam-no aos lugares nos quais sempre fizeram farra. Isto até a derradeira morte de Quincas, ao cair da saveiro no mar. História que se presta a filmes (há já alguns bem parecidos) e ao imaginário popular.
Coloquei a capa da edição que li, com posfácio de Affonso Romano de Sant'Anna, que conta a história real, ocorrida na Bahia, que deu origem à do Quincas. Vale também a pena ler!
A dica de hoje é A morte e a morte de Quincas Berro D'Água, de Jorge Amado.
Li no hospital (olha ele aqui de novo), já um tanto intrigado de perceber que, em mais de 3 décadas de vida, embora conhecendo várias obras do escritor baiano, nunca havia lido nenhuma. Leitura bem apropriada ao local e à situação em que me encontrava: leve e divertida. Trata-se de uma novela, que narra a morte de Joaquim Soares da Cunha, respeitável funcionário da Mesa de Rendas Estadual, e de Quincas Berro D'água, 'rei dos vaabundos', 'senador da gafieira' e 'patriarca da zona dobaixo meretrício'. Na verdade, trata-se da mesma pessoa, que no entanto teve vidas tão diferentes. O correto marido e pai de família que, aos cinquenta anos, largou a casa e a família para viver na companhia dos vagabundos, boêmios, bêbados e prostitutas, é o personagem que dá vida (ops, cuja(s) morte(s)) à esta divertida história, com seus companheiros Mestre Manuel, Quitéria do Olho Arregalado, Negro Pastinha, Cabo Martim e Pé-de-Vento. São estes que, no velório, já bêbados, carregam o morto (que sorria) nos ombros, dão-lhe cachaça e levam-no aos lugares nos quais sempre fizeram farra. Isto até a derradeira morte de Quincas, ao cair da saveiro no mar. História que se presta a filmes (há já alguns bem parecidos) e ao imaginário popular.
Coloquei a capa da edição que li, com posfácio de Affonso Romano de Sant'Anna, que conta a história real, ocorrida na Bahia, que deu origem à do Quincas. Vale também a pena ler!
sábado, 18 de setembro de 2010
Reflexões hospitalares!
Coloquei no post anterior que minha concepção de tempo mudou. Na verdade as internações serviram para me mostrar algumas coisas:
- não me acho. Tenho pavor (e mantenho distância) de gente que se acha o centro do mundo. Ainda assim, aprendi que não sou mais do que um grão de areia (nunca pensei ser mais do que isso mesmo) em meio a esse mundo caótico. Aprendi que o meu tempo é só o MEU tempo. Por mais que tenha pressa, a pressa será só minha. As outras pessoas, o mundo, tem seu próprio tempo. Por mais que tenha dor e aperte a campainha (luz) do quarto do hospital, o auxílio não virá na hora que eu quiser/ precisar. Se for troca de turno ou hora de os atendentes passarem nos quartos para medir os sinais vitais dos pacientes todos, eu que aguarde. E a dor também.
- a vida é feita de instantes, e tudo é relativo. Ainda este ano fiz meu primeiro check-up (35 anos), com todos exames possíveis, e deu TUDO absolutamente bem, tive minha saúde elogiada pelo médico. Nunca, nestas três décadas e meia, tive qualquer problema de saúde maior do que alguma gripe ou as doenças infantis. Minha presença em hospitais se resumia a visitar parentes. E eis que...
- pós-hospital, e ainda referente ao tempo: tenho aos poucos aceitado que o dia só tem (e sempre terá) 24 horas. Este sim é o aprendizado mais difícil, para alguém tão atarefado. Mas necessário. É preciso aprender a conviver com isso. Das 24 horas, tirando-se umas 5 ou 6 para o sono, 2 para as refeições todas, 1 para os banhos, e uns 40 minutos para os deslocamentos, o que sobra é trabalho. Fora ou em casa. Se der tempo de fazer tudo o que preciso, beleza. Se não der, que fique para outro dia. Não posso deixar de fazer qualquer das coisas citadas acima. Ah, e vez ou outra vou ter de tirar ou achar um tempinho para mim, ou o corpo vai novamente me forçar a isso...
- há coisas (e não são poucas) que, embora não entendamos - ou não concordemos - , precisamos aceitar. Se o médico prescrever que é necessário ter de passar por 50 horas de jejum, paciência. Se, dias depois, tiver de passar por mais 62 horas de jejum total (nem água), paciência também. Se sair do hospital com 8 quilos a menos e tiver de enfrentar os olhares entre assustados e apiedados dos conhecidos, mais paciência e coragem. Com o tempo as pessoas acostumam (ou volto a engordar).
- na verdade um dos grandes aprendizados foi exatamente este: o exercício da paciência, coisa que sempre me faltou. E o conhecimento do corpo, dos limites e das mais variadas dores (e da capacidade de suportá-las).
Enfim, há tempos não se via um post tão melancólico e filosófico como este.
Aspectos positivos desta experiência: pude ler bastante nos momentos sem dor (coisa que já não conseguia fazer em casa, pelo excesso de trabalho) e, principalmente, me senti importante e querido com todas as manifestações de carinho, visitas, ligações e mensagens que recebi. Faz muito bem esse sentimento de vez em quando...
- não me acho. Tenho pavor (e mantenho distância) de gente que se acha o centro do mundo. Ainda assim, aprendi que não sou mais do que um grão de areia (nunca pensei ser mais do que isso mesmo) em meio a esse mundo caótico. Aprendi que o meu tempo é só o MEU tempo. Por mais que tenha pressa, a pressa será só minha. As outras pessoas, o mundo, tem seu próprio tempo. Por mais que tenha dor e aperte a campainha (luz) do quarto do hospital, o auxílio não virá na hora que eu quiser/ precisar. Se for troca de turno ou hora de os atendentes passarem nos quartos para medir os sinais vitais dos pacientes todos, eu que aguarde. E a dor também.
- a vida é feita de instantes, e tudo é relativo. Ainda este ano fiz meu primeiro check-up (35 anos), com todos exames possíveis, e deu TUDO absolutamente bem, tive minha saúde elogiada pelo médico. Nunca, nestas três décadas e meia, tive qualquer problema de saúde maior do que alguma gripe ou as doenças infantis. Minha presença em hospitais se resumia a visitar parentes. E eis que...
- pós-hospital, e ainda referente ao tempo: tenho aos poucos aceitado que o dia só tem (e sempre terá) 24 horas. Este sim é o aprendizado mais difícil, para alguém tão atarefado. Mas necessário. É preciso aprender a conviver com isso. Das 24 horas, tirando-se umas 5 ou 6 para o sono, 2 para as refeições todas, 1 para os banhos, e uns 40 minutos para os deslocamentos, o que sobra é trabalho. Fora ou em casa. Se der tempo de fazer tudo o que preciso, beleza. Se não der, que fique para outro dia. Não posso deixar de fazer qualquer das coisas citadas acima. Ah, e vez ou outra vou ter de tirar ou achar um tempinho para mim, ou o corpo vai novamente me forçar a isso...
- há coisas (e não são poucas) que, embora não entendamos - ou não concordemos - , precisamos aceitar. Se o médico prescrever que é necessário ter de passar por 50 horas de jejum, paciência. Se, dias depois, tiver de passar por mais 62 horas de jejum total (nem água), paciência também. Se sair do hospital com 8 quilos a menos e tiver de enfrentar os olhares entre assustados e apiedados dos conhecidos, mais paciência e coragem. Com o tempo as pessoas acostumam (ou volto a engordar).
- na verdade um dos grandes aprendizados foi exatamente este: o exercício da paciência, coisa que sempre me faltou. E o conhecimento do corpo, dos limites e das mais variadas dores (e da capacidade de suportá-las).
Enfim, há tempos não se via um post tão melancólico e filosófico como este.
Aspectos positivos desta experiência: pude ler bastante nos momentos sem dor (coisa que já não conseguia fazer em casa, pelo excesso de trabalho) e, principalmente, me senti importante e querido com todas as manifestações de carinho, visitas, ligações e mensagens que recebi. Faz muito bem esse sentimento de vez em quando...
terça-feira, 14 de setembro de 2010
Notícia
Já estou bem. Muita coisa aconteceu depois desta postagem aí debaixo: infecção, nova (e prolongada) hospitalização, todos tipos de dores possíveis; sem dúvida, o momento mais difícil da minha vida.
Tudo bem agora, MUITA² coisa para escrever, mas pouco tempo.
Mas devagar tudo vai se ajeitando; até minha concepção de tempo mudou (em seguida explico melhor)...
Tudo bem agora, MUITA² coisa para escrever, mas pouco tempo.
Mas devagar tudo vai se ajeitando; até minha concepção de tempo mudou (em seguida explico melhor)...
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