sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Singeleza

Mas aí, o cidadão lendo um Mario Quintana, bem tranquilo, e se depara com esta obra de singeleza, de seu segundo livro, lá de 1946 (Canções):

Canção de junto ao berço

Não te movas, dorme, dorme
O teu soninho tranquilo
Não te movas (diz-lhe a Noite)
Que inda está cantando um grilo...

Abre os teus olhinhos de ouro
(O Dia lhe diz baixinho)
É tempo de levantares
Que já canta um passarinho...

Sozinho, que pode um grilo
Quando já tudo é revoada?
E o Dia rouba o menino
no manto da madrugada...


Primor de sutileza para descrever o acordar de uma criança. Isto quando o mundo mergulhava na guerra fria e tinha acabado de ver todo o horror dos campos de concentração e das bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki.

Isto 40 anos depois do nascimento do poeta, quando faltavam ainda 20 para ele virar imortal da Academia Brasileira de Letras. Mais outros 20 anos e ele seria Patrono da Feira do Livro de Porto Alegre, no já distante 1986 (demorou...). Ele que, ao receber, em 1967 o título de Cidadão Honorário de Porto Alegre, ainda cunhou esta:

"Antes, ser poeta era um agravante. Depois, passou a ser uma atenuante. Vejo agora que ser poeta é uma credencial."


Mas bah! Só resta lamentar o fato de tal lacuna ainda não ter sido preenchida em nossa poesia, passados 29 anos da morte de Quintana...

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