A questão é antiga, sem dúvida. Fui motivado a escrever em função de um ótimo artigo de Moacyr Scliar, do caderno Donna, ainda no mês de setembro.
No texto ele cita o livro e o estudo do psicólogo norte-americano Paul Bloom, "How pleasure works: teh new science os Why we like what we like" (tipo: "Como funciona o prazer: a nova ciência de porque gostamos daquilo que gostamos").
Diz ele que Bloom deu, em programa de Lucas Mendes, dois exemplo fundamentais a respeito da questão de gosto, e principalmente de como os gostos de muitas pessoas são influenciáveis pelas aparências.
Primeiro, citou uma iniciativa do jornal Washington Post, em que o violinista Joshua Bell disfarçou-se de artista de rua e tocou por 45 minutos obras de Bach em uma estação de metrô, com seu Stradivarius de 1713, avaliado em US$ 3 milhões. Resultado: apenas 6 pessoas pararam para escutar, e a que ficou mais tempo (mesmo apressada pela mãe) foi uma criança de 3 anos. Detalhe: dias antes ele havia tocado (e lotado) no Symphony Hall de Boston, com ingressos de até US$ 1.000! Sem o traje e o teatro, porém...
Segundo, e este exemplo é clássico: dois grupos de pessoas receberam amostras de vinho barato para provar. A um dos grupos isto foi revelado, enquanto que ao outro foi dito tratar-se de um vinho famoso. Resultado: neste segundo grupo os elogios foram unânimes. O principal: os elogios não foram "só de boca": imagens de ressonância magnética mostraram que as áreas cerebrais ligadas ao prazer "se incendiavam" quando a pessoa tomava o suposto vinho 'de grife'.
Tudo isso é absoltumante simbólico a respeito do tipo de vida e de valores que são comuns hoje em dia. A pesquisa e os exemplos foram realizados nos Estados Unidos, mas teriam resultados diferentes no Brasil? Logo aqui, onde tanto se valoriza a embalagem, em detrimento do conteúdo (veja-se o caso das 'mulheres frutas')??? Quantas vezes não vamos (ou ouvimos falar de pessoas que tem esta experiência) a restaurantes caros, metidos a besta mesmo, em que a comida é bem - no máximo - mais ou menos? Quantas vezes ao se comprar uma roupa, não se paga o triplo de seu preço apenas pela etiqueta? Quanta gente não paga uma quantia absurda para fazer em um 'coiffeur' de grife (daqueles que se marca hora com meses de antecedência) o mesmo corte que se faria em qualquer salão?
O que houve com a cultura do SER?
Quando - e por quê - 'TER' se tornou mais importante do que 'SER'?
O que (em termos materiais e em termos de pessoas) muitas vezes não se joga fora ou desperdiça em função das aparências?
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