domingo, 11 de abril de 2010

Mundo moderno

Serei obrigado a começar este post com um pedido de desculpas. Sinceramente. Se algum taxista ler este texto (ou parente ou amigo de um) por favor reflita antes de me condenar. Eu mesmo tenho alguns amigos e companheiros de futebol que são taxistas, e atesto que, ao menos fora do taxi, são pessoas sensacionais. Não sei como são quando estão trabalhando.
O fato é que Porto Alegre, por mais que eu goste e que fale bem (como fiz há poucas semanas, quando do aniversário da cidade), já cresceu e tem os problemas de qualquer outra grande cidade. Alguns ligados ao trânsito. Muita gente fala mal de motoboys, nem vou entrar neste mérito aqui.
O que motiva este post de hoje e este assunto tão delicado é algo que aconteceu comigo ontem. Estava entrando em um shopping quando, bem em frente à cancela, um taxista tentava, acho eu, atravessar meu carro para entrar na minha frente. O fato é que ele estava do meu lado, e não na minha frente, tentando me fechar. Ele tentou mesmo é me empurrar para o lado, me fazer desistir de entrar ou coisa parecida, pois, repito, não estava na minha frente. Se estivesse, eu seria obrigado a parar. O fato é que eu estava na reta da cancela e ele fora, na pista da esquerda, tentando me enxotar da frente da cancela para entrar, eu que me ralasse... E só parou quando buzinei, e o carro dele estava a MENOS DE UM PALMO do meu. Aí que veio o problema: ele até parou, mas botou metade do corpo para fora da janela, começou a gritar, ofender toda minha família e ameaçou me pegar e fazer um monte de coisas com o meu carro depois que eu estacionasse e entrasse no shopping, e que eu não conseguiria sair do mesmo... Cúmulo do cúmulo do absurdo... Por causa de uma buzina(?).
Resultado: não tendo dinheiro para pagar conserto (e ainda que tivesse, seria o absurdo total), e também por pressão da minha mulher, acabei nem estacionando no shopping, saí direto. Não teria a mínima cabeça para fazer o que fui fazer lá dentro e depois chegar no estacionamento e ver meu carro sabe-se lá como...

Aí que vem várias coisas que se pode pensar: será que o tal "taxista" (coloco entre aspas, pois tal comportamento, para mim, é mais de bandido do que de alguém que trabalhe e tire o sustento por tal meio) estava com problemas pessoais e disposto a descontar em qualquer um? Se sim, o que seria capaz de fazer/ que crime será que não cometeria... Será que também não é reflexo da profissão? Explico: em 10 minutos chego no meu trabalho, todas as manhãs, e levo 20 para voltar para casa, por causa do movimento do fim da tarde; nesse curto tempo que dirijo, muitas vezes me estresso com coisas que vejo, motoristas, que se atravessam/ passam no vermelho/ fecham, etc. Imagina alguém que passa o dia no trânsito, é altamente desgastante, fisicamente e, em especial, psicologicamente. Tá ontem, quando aconteceu isso, era sábado, dia em que o trânsito nem é tão intenso, mas sabe-se lá o que tal "taxista" tem de stress acumulado... Será que motoristas de grandes cidades não deveriam ter acompanhamento psicológico ou exames psicológicos/ psiquiátricos periódicos? Terá que acontecer alguma coisa mais grave para alguém pensar em fazer algo? Os taxistas se unem tanto, e de uma maneira tão bonita quando um deles é assaltado ou morto, porque não se unem para limpar sua imagem, quando um deles faz alguma bobagem?
Sei lá, talvez seja reflexo da vida em grandes cidades, ou destes tempos loucos (e corridos) em que vivemos. Mas que dá uma tristeza, uma angústia, uma melancolia, isso dá...
Repito: não quis aqui fazer nenhum julgamento de classe ou de profissão, todas que existem (lícitas) são importantes para o funcionamento da sociedade. E em todas (SEM EXCEÇÃO) há bons e maus profissionais. Só acho que respeito, educação, cortesia, boas maneiras também são, FUNDAMENTAIS. Sei lá, dá uma tristeza ver o jeito caótico e violento que está o mundo, e o quanto as pessoas estão individualistas... É isso que chamam de progresso?

2 comentários:

Mauro Castro disse...

Meu caro, não é querer puxar a brasa para o meu assado, mas o cerne da questão está na última frase do teu post: "o quanto as pessoas estão individualistas". Foi um taxista, mas poderia ser um dentista em um Renault, um pedreiro em um Gol, um escritor em um Chevrolet...assim por diante. Fico feliz em ser convidado a discutir o post. Isso mostra o caráter do amigo.
Há braços!!

Mente inquieta disse...

Com certeza, poderia ter sido qualquer um e eu teria postado aqui igual. O que me chamou a atenção não foi o carro ou a profissão, mas a situação, todas os palavrões e as ameaças que eu e minha esposa tivermos de ouvir, por nada. O fato de não ter podido fazer no shopping o que pretendia. Ter perdido um direito tão básico e simples... Te convidei pois gostaria de ouvir (dã, ler!) a
opinião de alguém que vive isso diariamente e tem a sensibilidade de compartilhar com todos um pouco de suas histórias na profissão!
Grande abraço, apareça!
(e parabéns pelo teu blog, muito interessante e bem escrito! Lia direto quando era no outro endereço, e a Kátia Suman e o Eduardo Santos, ambos ainda na Ipanema, comentavam-no direto no ar! Agora não tenho mais lido com a mesma frequência, como muitas outras coisas que não faço mais com a mesma frequência, em função da carga horária de trabalho desumana...)