Gravado nas ruínas e no anfiteatro de Pompéia (sim, aquela mesma!), é uma viagem total misturar algumas das músicas mais psicodélicas do Pink Floyd com a atmosfera de Pompéia e com algumas imagens de outras erupções à noite, coisa de se contorcer todo, e babando... A viagem começa e termina com Echoes, faixa de 27 minutos (tem no álbum Meddle) que a pessoa nem sente o tempo passar (nem o mundo girar...). Para não pensar em nada, ficar só existindo... Indescritível, mas se alguém encontrar palavras para explicar, que por favor me empreste!!!
Cultura, atualidades, alimento para a mente, os olhos e o espírito (ah, e a pança também!).
terça-feira, 30 de setembro de 2008
Absurdo!
Não é nenhum lançamento ou novidade, mas é difícil de explicar, e mais difícil ainda encontrar coisa mais psicodélica do que isso:
quarta-feira, 24 de setembro de 2008
Espaguete ao conhaque
A boa mesa é sem dúvida um dos grandes prazeres da vida, e a culinária italiana é o que há de melhor. Agradeço sempre por ter boa saúde e uma mente despreocupada em relação a questões estéticas como medo de engordar, etc. Assim sendo, compartilho com o amigo leitor uma receita irresistível, simples mas com um toquezinho de sofisticação. É o seguinte:
Espaguete ao Conhaque
Ingredientes (para 4 pessoas):
- 500 g de espaguete
- água fervente abundante
- sal grosso
- 50 g de manteiga
- 1 colherinha de farinha
- 1 cebola picada
- 1/4 de maçã picada
- 1 copo pequeno de conhaque
- 200 g de nata (eu faço com creme de leite e fica o canal)
- 50 g de queijo ralado
- 100 g de presunto picado
- sal e pimenta a gosto
Preparo (olha que barbada!!):
1. Derreta a manteiga em uma panela e coloque a farinha, mexendo sempre. June a maçã e a cebola e mexa em fogo baixo. Flambe a cebola com o conhaque. coloque a nata e o queijo ralado, misture e adicione o sal e a pimenta.
2. Enquanto isso, em outra panela, coloque o sal grosso com a água fervente e o espaguete. Depois de pronto, reserve duas colheres da água em que a massa cozinhou e passe o espaguete na peneira. Coloque-o numa travessa, cubra aos poucos com o molho e misture. Coloque tiras de presunto e a água reservada por cima.
3. Sirva-se, de preferência acompanhado de um vinho expressivo como um Cabernet Sauvignon (por causa do conhaque)
4. Prove
5. Tente segurar o gozo
6. Agradeça o fato de poder saborear os pequenos prazeres da vida!
A receita é do livro A boa cozinha com sotaque italiano, de J. A. Pinheiro Machado e Iotti (Anonymus Gourmet e Radicci) - L&PM, e é fácil e prática mesmo. E EXCELENTE!!!! Sempre achei que o "flambado" fosse mais uma questão de estética (valoriza o prato) do que de paladar propriamente dito, mas é impressionante o gosto que deixa na cebola (e no molho)! Vale a pena experimentar!
Espaguete ao Conhaque
Ingredientes (para 4 pessoas):
- 500 g de espaguete
- água fervente abundante
- sal grosso
- 50 g de manteiga
- 1 colherinha de farinha
- 1 cebola picada
- 1/4 de maçã picada
- 1 copo pequeno de conhaque
- 200 g de nata (eu faço com creme de leite e fica o canal)
- 50 g de queijo ralado
- 100 g de presunto picado
- sal e pimenta a gosto
Preparo (olha que barbada!!):
1. Derreta a manteiga em uma panela e coloque a farinha, mexendo sempre. June a maçã e a cebola e mexa em fogo baixo. Flambe a cebola com o conhaque. coloque a nata e o queijo ralado, misture e adicione o sal e a pimenta.
2. Enquanto isso, em outra panela, coloque o sal grosso com a água fervente e o espaguete. Depois de pronto, reserve duas colheres da água em que a massa cozinhou e passe o espaguete na peneira. Coloque-o numa travessa, cubra aos poucos com o molho e misture. Coloque tiras de presunto e a água reservada por cima.
3. Sirva-se, de preferência acompanhado de um vinho expressivo como um Cabernet Sauvignon (por causa do conhaque)
4. Prove
5. Tente segurar o gozo
6. Agradeça o fato de poder saborear os pequenos prazeres da vida!
A receita é do livro A boa cozinha com sotaque italiano, de J. A. Pinheiro Machado e Iotti (Anonymus Gourmet e Radicci) - L&PM, e é fácil e prática mesmo. E EXCELENTE!!!! Sempre achei que o "flambado" fosse mais uma questão de estética (valoriza o prato) do que de paladar propriamente dito, mas é impressionante o gosto que deixa na cebola (e no molho)! Vale a pena experimentar!
sábado, 20 de setembro de 2008
Desafio
Impressão minha ou todos os candidatos a prefeitura estão com praticamente o mesmo discurso e os mesmos projetos? Muda um numerozinho aqui um ou outro novo guardinha a mais e só...
Proponho um desafio ao amigo leitor (no caso, e-leitor - ou melhor, eleitor!): anote os projetos e promessas de cada um dos candidatos de sua cidade em papéis diferentes, sem colocar o nome do candidato. Depois embaralhe bem os papéis e tente descobrir qual é de cada candidato.
Fiquem à vontaade para me contar se conseguiram ou não.
E na sua cidade, caro eleitor, como estão as coisas?
Proponho um desafio ao amigo leitor (no caso, e-leitor - ou melhor, eleitor!): anote os projetos e promessas de cada um dos candidatos de sua cidade em papéis diferentes, sem colocar o nome do candidato. Depois embaralhe bem os papéis e tente descobrir qual é de cada candidato.
Fiquem à vontaade para me contar se conseguiram ou não.
E na sua cidade, caro eleitor, como estão as coisas?
terça-feira, 16 de setembro de 2008
CQC
Nada como o CQC (Custe o que custar, Band, segundas-feiras às 22:00) para provar que é possível fazer bons programas na TV aberta! Descontração, humor, informação e ironia² sem apelação, é o melhor (senão único bom) programa da TV aberta no Brasil. Não é novidade, é uma franquia que existe já em vários países, mas que é feita com extrema competência por aqui por Marcelo Tas, Rafinha Bastos, Marco Luque, Felipe Andreolli, Rafael Cortez, Oscar Filho, Danilo Gentili e Warley Santana. Para quem perdeu, repete no sábado às 20:15, vale a pena conferir!
domingo, 14 de setembro de 2008
O Pintor de Retratos
Acabo de ler O pintor de retratos, de Assis Brasil,
mais um bom livro do autor. Muito interessante pela peculiaridade do tema (pintor - assim como seu pai, avô e seis gerações anteriores - em dificuldades na Itália e na Europa, muda-se para o Rio Grande do Sul, onde passa a tentar a sorte pintando retratos. É, porém, a época da chegada da fotografia - final do século XIX - e uma série de conflitos estéticos/ artísticos se instalarão, não apenas nos pintores e fotógrafos, mas na sociedade da época), bem como pelas alegorias e metáforas empregadas pelo autor. Característica da obra de Assis Brasil, a contextualização temporal (menções à Revolução Federalista) e espacial (andanças do protagonista pelo Rio Grande do Sul) aparece aqui mais uma vez presente, localizando e orientando o leitor. Outro detalhe positivo é a construção dos personagens, que são permitidos a conhecer mais por suas ações do que por descrições detalhadas do autor, que não existem. Leitura, enfim, fácil e agradável.
sexta-feira, 12 de setembro de 2008
Continho!
Para iniciar, aí vai um conto meu, que já havia caído na grande rede mesmo...
Jaime era um cara comum. Nada havia nele que chamasse tanto a atenção dos menos observadores. E, como toda pessoa comum, possuía também suas excentricidades. Bastava conhecer alguém e já se apresentava: “Jaime, mas pode me chamar de James, é como o pessoal me chama”. Nunca vi ninguém chamá-lo assim, mas ele não desistia. Fã de James Coburn, não perdia um filme de faroeste. Provavelmente já havia assistido a todos, e mais de uma vez, mas não cansava.
Outra excentricidade sua era uma recente fixação pela palavra “baby”. Tentava usá-la a todo custo, na maioria das vezes sem propósito algum. Acabava ficando meio artificial, fora de contexto, forçada mesmo. Ele com certeza sentia os olhares de reprovação. Mas não desistia.
Tão logo pôde, juntou quase todas as suas economias para ir ao velho oeste buscar uma inspiração. Precisava falar “baby” para sentir-se bem. Com um pouco de sorte, encontrando as oportunidades certas, passaria alguns dias usando a tão sonhada palavra. Aí sim, voltaria com as energias recarregadas e de bem consigo mesmo. Sua auto-estima precisava disso. É verdade, o cenário não é lá o mais apropriado; talvez fosse melhor uma coisa mais rock’n roll, meio anos 60, 70, mas indo para o velho oeste Jaime realizaria também um sonho de criança.
A primeira coisa que fez, sem querer, foi esbarrar em um sujeito, gordo e grisalho. Mal-encarado, não aceitou o humilde pedido de desculpas de Jaime (ops, agora sim parece mais apropriado o “James”). O sujeito não quis nem ouvir os pretextos do rapaz, desacostumado com botas de couro, pois era a primeira vez que usava e ainda não caminhava com muita firmeza. Ainda debochou, perguntando se com tamancos ele estava acostumado. Andar sem muita firmeza no velho oeste pode ser perigoso, senão para a vida, ao menos para a reputação. Mas James não se deixou abater. Fingiu não ouvir a ironia e continuou a caminhada, ainda ouvindo os resmungos do homem. Talvez o Gordo nem estivesse de mau-humor, mas o velho oeste é assim mesmo: rudeza e grosseria são algumas das poucas leis aqui. Sem falar no cheiro ruim de tudo e de todos; banho não é bem uma prioridade por tais bandas.
Como era uma pessoa de paz, achou mais conveniente deixar o coldre com o revólver no quarto da pensão. Pretendia sair para dar uma volta, conhecer o lugar e tentar não arrumar problemas. Não poderia chegar matando. Sabe-se lá qual tipo de gente poderia encontrar pelo caminho. Ou o que mais poderia acontecer. Saindo da pensão, passou pelos Correios e Telégrafos e pela estação de trem, onde aproveitou para pegar um jornal do dia. Guardou-o embaixo do sovaco para ler depois.
Ia caminhando a passos tranqüilos, sem pressa. Vez ou outra escarrava para o lado, enquanto se aproximava do saloon. Empurrou as portinholas, avançou um pouco, ajeitou o chapéu e olhou para os lados, o olhar decidido e sério. O lugar era exatamente como ele sempre imaginou, ou como via nos filmes: enfumaçado, um pouco escuro (apesar de ser dia) e com um agradável som de piano ao fundo, ainda mais para quem não é tão exigente em termos musicais. Sorriu então com o canto da boca e ocupou uma mesa próxima à janela, pedindo em voz alta “um whisky, sem gelo”. Depois de tirar o chapéu começou a enrolar um palheiro, acendendo-o com o fósforo do dono da espelunca, quando este trouxe a bebida. No velho oeste não tem ainda essa história de “proibido fumar”. Também, se tivesse, o saloon ficaria entregue às moscas.
Tomou de um gole o whisky e ergueu o copo em direção ao balcão, pedindo outro. Abriu o jornal em cima da mesa e começou a ler, mais interessado no pôquer da mesa ao lado. Eram quatro os jogadores, mas só conseguia enxergar as cartas de dois deles, o de costas para ele e o de lado. Conseguiu ver o quanto blefavam, a não mais poder. Um sujeito obeso, que não reconheceu de imediato, pois estava de costas para ele, possuía apenas uma trinca de oitos, e o outro blefava com um ridículo parzinho de damas. Falavam alto e batiam na mesa, abafando o som de “Oh, Susana” que saía com sofreguidão do piano. Bebiam, enquanto isso, na mesma proporção dos blefes.
Dois whiskies e umas seis partidas depois, James se convidou para jogar, tendo de pagar cem dólares para entrar no jogo, e ainda ouvir os deboches do Gordo, já devidamente reconhecido. Ainda disse que “ali só jogavam homens, mas eles podiam abrir uma exceção para o forasteiro – é sempre bom tirar dinheiro de um otário”. A resposta foi instantânea:
– Já deve ter perdido bastante, então, não é?
O sujeito bateu na mesa e, levantando-se, quase encostou o nariz no de James para resmungar “não esqueci do encontrão horas atrás, palhaço…”
– E não vai esquecer também da surra nas cartas que vai levar agora.
Contido pelos outros, o Gordo sentou em seu lugar e a jogatina reiniciou. O pianista desistiu de tentar tocar e foi assistir ao jogo, assim como a puta que estava encostada (quase deitada) até então no piano. Ambiente mais silencioso, James sentou-se então com outra dose de whisky à mão. O dono da espelunca também postou-se em volta da mesa, com seu pano já meio marrom no ombro.
Após perder uma, duas e três partidas, começou a ganhar, uma atrás da outra. O Gordo e um outro, de cabelo enferrujado, levantaram-se de um golpe da cadeira, derrubando-a ao chão e insultando o vencedor. O sujeito propôs um duelo, mas James, em vão, tentou recusar. Não estava para briga, e sequer tinha o revólver consigo, mas de nada adiantaram seus argumentos. Estavam todos já na rua, em frente ao saloon, arrastados no burburinho causado pela notícia do duelo. Toda a freguesia do saloon foi correndo para lá também, e a puta do piano correu em direção ao James, pegou-o pelo braço e desejou boa sorte. Afirmou torcer por ele e prometeu um prêmio se conseguisse escapar vivo. Nisso ele já estava cara a cara com o rival, e conseguiu a muito custo convencê-lo a deixar buscar sua arma na pensão, apesar de mais de trinta homens terem oferecido as suas.
Correu então para lá e subiu aos tropeções os dois lances de escadas. “Droga, não dá nem para chamar esse sujeito de baby, senão a coisa piora”, ainda pensou. Lá chegando, colocou o coldre na cintura com o revólver já todo carregado, mesmo sabendo que não daria mais de um tiro. Com muita sorte conseguiria atirar uma única vez. Se disparasse, teria boas chances de acertar, dado o tamanho do alvo. Pensava nisso apenas para se acalmar, pois não possuía muita experiência com armas.
Desceu as escadas devagar, como quem está indo fazer algo contrariado. Ouvia ainda dezenas de vozes misturando-se na rua. Foi andando em direção ao Gordo, sempre encarando-o com o olhar fixo, sem desviar nem ao cuspir para o lado. O gosto do palheiro ainda estava forte na garganta, já seca. Depois de parar a poucos centímetros da cara do rival – apenas a distância da aba dos chapéus – a puta do piano veio fazer as honras do duelo. Virou-os de costas um para o outro e James sentiu de novo a maciez do seu toque e a esperança em seu olhar. Começou a contar lentamente os passos: um… dois… Fez-se o silêncio no povoado. E o sol escaldante refletia nas vidraças do saloon.
Cinco… seis…. calor infame, roupa de couro pesa - pensou.
Nove… dez… um giro rápido para trás, um estampido e o barulho de um corpo se estatelando no solo poeirento. Ainda teve tempo de achar insuportável o gosto de sangue misturado ao do palheiro. Deveria ter tomado mais whiskies. Ainda pôde sentir a maciez da mão da puta uma vez mais, enquanto ela segurava e repousava a cabeça em seu colo, acariciando-a como uma mãe faria a um filho. Ouviu-a ainda protestar, dizendo que ele não precisava ter feito aquilo, “não tinha necessidade” e outras coisas mais. James ia ouvindo cada vez menos, como se a voz dela estivesse sumindo. Quando sentiu que não ouvia mais nada e a vista escurecia, ainda teve forças e calma para dizer, com um leve sorriso nos lábios:
– No velho oeste é assim. Baby.
Baby
Jaime era um cara comum. Nada havia nele que chamasse tanto a atenção dos menos observadores. E, como toda pessoa comum, possuía também suas excentricidades. Bastava conhecer alguém e já se apresentava: “Jaime, mas pode me chamar de James, é como o pessoal me chama”. Nunca vi ninguém chamá-lo assim, mas ele não desistia. Fã de James Coburn, não perdia um filme de faroeste. Provavelmente já havia assistido a todos, e mais de uma vez, mas não cansava.
Outra excentricidade sua era uma recente fixação pela palavra “baby”. Tentava usá-la a todo custo, na maioria das vezes sem propósito algum. Acabava ficando meio artificial, fora de contexto, forçada mesmo. Ele com certeza sentia os olhares de reprovação. Mas não desistia.
Tão logo pôde, juntou quase todas as suas economias para ir ao velho oeste buscar uma inspiração. Precisava falar “baby” para sentir-se bem. Com um pouco de sorte, encontrando as oportunidades certas, passaria alguns dias usando a tão sonhada palavra. Aí sim, voltaria com as energias recarregadas e de bem consigo mesmo. Sua auto-estima precisava disso. É verdade, o cenário não é lá o mais apropriado; talvez fosse melhor uma coisa mais rock’n roll, meio anos 60, 70, mas indo para o velho oeste Jaime realizaria também um sonho de criança.
A primeira coisa que fez, sem querer, foi esbarrar em um sujeito, gordo e grisalho. Mal-encarado, não aceitou o humilde pedido de desculpas de Jaime (ops, agora sim parece mais apropriado o “James”). O sujeito não quis nem ouvir os pretextos do rapaz, desacostumado com botas de couro, pois era a primeira vez que usava e ainda não caminhava com muita firmeza. Ainda debochou, perguntando se com tamancos ele estava acostumado. Andar sem muita firmeza no velho oeste pode ser perigoso, senão para a vida, ao menos para a reputação. Mas James não se deixou abater. Fingiu não ouvir a ironia e continuou a caminhada, ainda ouvindo os resmungos do homem. Talvez o Gordo nem estivesse de mau-humor, mas o velho oeste é assim mesmo: rudeza e grosseria são algumas das poucas leis aqui. Sem falar no cheiro ruim de tudo e de todos; banho não é bem uma prioridade por tais bandas.
Como era uma pessoa de paz, achou mais conveniente deixar o coldre com o revólver no quarto da pensão. Pretendia sair para dar uma volta, conhecer o lugar e tentar não arrumar problemas. Não poderia chegar matando. Sabe-se lá qual tipo de gente poderia encontrar pelo caminho. Ou o que mais poderia acontecer. Saindo da pensão, passou pelos Correios e Telégrafos e pela estação de trem, onde aproveitou para pegar um jornal do dia. Guardou-o embaixo do sovaco para ler depois.
Ia caminhando a passos tranqüilos, sem pressa. Vez ou outra escarrava para o lado, enquanto se aproximava do saloon. Empurrou as portinholas, avançou um pouco, ajeitou o chapéu e olhou para os lados, o olhar decidido e sério. O lugar era exatamente como ele sempre imaginou, ou como via nos filmes: enfumaçado, um pouco escuro (apesar de ser dia) e com um agradável som de piano ao fundo, ainda mais para quem não é tão exigente em termos musicais. Sorriu então com o canto da boca e ocupou uma mesa próxima à janela, pedindo em voz alta “um whisky, sem gelo”. Depois de tirar o chapéu começou a enrolar um palheiro, acendendo-o com o fósforo do dono da espelunca, quando este trouxe a bebida. No velho oeste não tem ainda essa história de “proibido fumar”. Também, se tivesse, o saloon ficaria entregue às moscas.
Tomou de um gole o whisky e ergueu o copo em direção ao balcão, pedindo outro. Abriu o jornal em cima da mesa e começou a ler, mais interessado no pôquer da mesa ao lado. Eram quatro os jogadores, mas só conseguia enxergar as cartas de dois deles, o de costas para ele e o de lado. Conseguiu ver o quanto blefavam, a não mais poder. Um sujeito obeso, que não reconheceu de imediato, pois estava de costas para ele, possuía apenas uma trinca de oitos, e o outro blefava com um ridículo parzinho de damas. Falavam alto e batiam na mesa, abafando o som de “Oh, Susana” que saía com sofreguidão do piano. Bebiam, enquanto isso, na mesma proporção dos blefes.
Dois whiskies e umas seis partidas depois, James se convidou para jogar, tendo de pagar cem dólares para entrar no jogo, e ainda ouvir os deboches do Gordo, já devidamente reconhecido. Ainda disse que “ali só jogavam homens, mas eles podiam abrir uma exceção para o forasteiro – é sempre bom tirar dinheiro de um otário”. A resposta foi instantânea:
– Já deve ter perdido bastante, então, não é?
O sujeito bateu na mesa e, levantando-se, quase encostou o nariz no de James para resmungar “não esqueci do encontrão horas atrás, palhaço…”
– E não vai esquecer também da surra nas cartas que vai levar agora.
Contido pelos outros, o Gordo sentou em seu lugar e a jogatina reiniciou. O pianista desistiu de tentar tocar e foi assistir ao jogo, assim como a puta que estava encostada (quase deitada) até então no piano. Ambiente mais silencioso, James sentou-se então com outra dose de whisky à mão. O dono da espelunca também postou-se em volta da mesa, com seu pano já meio marrom no ombro.
Após perder uma, duas e três partidas, começou a ganhar, uma atrás da outra. O Gordo e um outro, de cabelo enferrujado, levantaram-se de um golpe da cadeira, derrubando-a ao chão e insultando o vencedor. O sujeito propôs um duelo, mas James, em vão, tentou recusar. Não estava para briga, e sequer tinha o revólver consigo, mas de nada adiantaram seus argumentos. Estavam todos já na rua, em frente ao saloon, arrastados no burburinho causado pela notícia do duelo. Toda a freguesia do saloon foi correndo para lá também, e a puta do piano correu em direção ao James, pegou-o pelo braço e desejou boa sorte. Afirmou torcer por ele e prometeu um prêmio se conseguisse escapar vivo. Nisso ele já estava cara a cara com o rival, e conseguiu a muito custo convencê-lo a deixar buscar sua arma na pensão, apesar de mais de trinta homens terem oferecido as suas.
Correu então para lá e subiu aos tropeções os dois lances de escadas. “Droga, não dá nem para chamar esse sujeito de baby, senão a coisa piora”, ainda pensou. Lá chegando, colocou o coldre na cintura com o revólver já todo carregado, mesmo sabendo que não daria mais de um tiro. Com muita sorte conseguiria atirar uma única vez. Se disparasse, teria boas chances de acertar, dado o tamanho do alvo. Pensava nisso apenas para se acalmar, pois não possuía muita experiência com armas.
Desceu as escadas devagar, como quem está indo fazer algo contrariado. Ouvia ainda dezenas de vozes misturando-se na rua. Foi andando em direção ao Gordo, sempre encarando-o com o olhar fixo, sem desviar nem ao cuspir para o lado. O gosto do palheiro ainda estava forte na garganta, já seca. Depois de parar a poucos centímetros da cara do rival – apenas a distância da aba dos chapéus – a puta do piano veio fazer as honras do duelo. Virou-os de costas um para o outro e James sentiu de novo a maciez do seu toque e a esperança em seu olhar. Começou a contar lentamente os passos: um… dois… Fez-se o silêncio no povoado. E o sol escaldante refletia nas vidraças do saloon.
Cinco… seis…. calor infame, roupa de couro pesa - pensou.
Nove… dez… um giro rápido para trás, um estampido e o barulho de um corpo se estatelando no solo poeirento. Ainda teve tempo de achar insuportável o gosto de sangue misturado ao do palheiro. Deveria ter tomado mais whiskies. Ainda pôde sentir a maciez da mão da puta uma vez mais, enquanto ela segurava e repousava a cabeça em seu colo, acariciando-a como uma mãe faria a um filho. Ouviu-a ainda protestar, dizendo que ele não precisava ter feito aquilo, “não tinha necessidade” e outras coisas mais. James ia ouvindo cada vez menos, como se a voz dela estivesse sumindo. Quando sentiu que não ouvia mais nada e a vista escurecia, ainda teve forças e calma para dizer, com um leve sorriso nos lábios:
– No velho oeste é assim. Baby.
quinta-feira, 11 de setembro de 2008
Bem-vindos!
Oi, estamos aí!!
A partir de agora um novo espaço para discussões, amizades, trocas de sutilezas, indicação de coisas boas da vida - literatura, músicas, filmes, gastronomia, cotidiano e o que mais surgir!
Hay que colocar essas mãos nervosas para trabalhar, pois a mente está inquieta com o que os olhos negros vêm captando ultimamente!
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