Sei que o assunto do momento é o Jorge Amado, pelo seu centenário. Mas é que acabei de ler os Contos Fluminenses, do Machado de Assis (na boa edição da Martin Claret ao lado), e não dá para deixar de falar no assunto.
Dá um orgulho louco poder dizer que já tivemos um escritor como Machado (quando será que teremos outro?...). Se seus romances são verdadeiros primores de escrita e de enredo, sua face contista é de uma absoluta maestria. Consegue ser original mesmo muitas vezes valendo-se do mesmo tema, dos desencontros do amor. Mais ainda, dá verdadeiras aulas sobre cotidiano e mentalidades no Brasil do século XIX. Como o Assis Brasil faz hoje, remetendo a tempos passados. A diferença é que o Machado escrevia sobre seu tempo. Mas muita coisa vale ainda para os dias atuais, por mais incrível que possa parecer, pelas tantas mudanças comportamentais e em termos de mentalidade que já passamos.
Um curto e elucidativo exemplo dessa atualidade do Machado: no conto "Linha reta e linha curva" ele escreve "há pessoas elegantes e pessoas enfeitadas". Pedrada na janela... A proporção provavelmente mudou, da época em que ele escreveu até hoje. O conceito e a maneira de 'enfeitar-se' também. A distinção entre as duas coisas, não. O evidente antagonismo e a crítica ao auperficial e ao artificial também não. Agora imaginem se ele vivesse hoje, em tempos de silicone, botox, lipos e plásticas de todo tipo e sem limites...