segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Políticamente incorreto


Em tempos de wikileaks, de revelações bombásticas e de discussões acerca do que é ou não é correto, vou fazer também minha revelação bombástica: acabei de ler o Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil, do Leandro Narloch.


Realmente "dá um sacode" naquilo que se acredita saber a respeito da história de nosso país. Para quem estudou a sério a História (e continua estudando, se atualizando) não traz muita novidade. Até porque nem poderia, pelos métodos do autor. Ele trabalha apenas com fontes secundárias, ou seja, com aquilo que outros já escreveram sobre cada um dos temas apresentados. Se ele tivesse acesso a arquivos inéditos ou novíssimas e recém descobertas fontes, ainda poderia se esperar novidades.

O fato é que ele parte de premissas reais: há mitos que REALMENTE se consolidaram no ensino de História do Brasil, há vícios e incorreções que foram (e muitas vezes são ainda) passadas adiante nas aulas de História, como se fossem verdades absolutas. Aliás, quem ensina História com "verdades absolutas" já está ensinando errado...

Mas se o autor pretende questionar (como se depreeende da dedicatória do livro), ele também acaba deixando espaço para muitos questionamentos:

- por exemplo, ao trabalhar sobre a questão da ditadura de 1964, analisa unilateralmente o contexto, afirmando que "antes de os militares derrubarem o Presidente João Goulart, já havia guerrilheiros planejando ações e se preparando para elas." Sim, de fato, mas já os militares faziam o mesmo, no mínimo, desde 10 anos antes também. Primeiro, com toda a mobilização que se encaminhava a um golpe (não é conclusão nem opinião minha, é o que está documentado inclusive através de ultimatos dados pelos militares) em 1954, e que acabou com o bnanho de água fria do suicídio de Vargas. Segundo, em 1961, quando, após a renúncia de Jânio, novamente os militares se assanham com o poder, e acabam consentindo (depois da Legalidade e tudo o mais) em entregar o poder a Jango, mas 'sem poderes', ou seja, sob um conveniente regime parlamentarista;

- atribui o golpe à data de 31 de março de 1964 (nele pegou esta data), e não a 1° de abril;

- a velha "história do se" (se tal coisa acontecesse, o Brasil seria assim...). Isso não existe. O autor usa mais uma vez argumentos unilaterais para defender seu ponto de vista. "Se o poder fosse tomado pelos comunistas, o Brasil seria blábláblá que nem a China; tal aspecto que nem a Mongólia; tal outro que nem Cuba... Não, não tem como prever como seriam as coisas em um país tomando por base outros. O Brasil não foi tomado pelos comunistas, como os Estados Unidos também não foram, e o Brasil ficou igual a eles? Ou igual a Inglaterra, que também não foi? Ou igual a Serra Leoa, que também não? Argumento sem pé nem cabeça...

- pior, estimula perigosos ódios e preconceitos contra alguns brasileiros, quando traz dados como: o Acre contribuiu para a economia nacional em 2007 com 177 milhões em impostos, e levou do governo federal 605 milhões... Mais, ainda defende que com o que "se perde" por ano "por causa do Acre", daria para fazer em São Paulo uma das melhores malhas ferroviárias do mundo ("meu mundo é meu umbigo"!). Mais ainda, diz que os com os "outros acres" do Brasil ("Rondônia, Roraima, Amapa, Tocantins, Alagoas, ... - as reticências deixam muitas pulgas atrás da orelha: quais outros estados ele teria citado? será que só o umbigo, quer dizer São Paulo, presta???) daria para melhorar a malha ferroviária também de outras capitais... Pensa que já viu tudo? olha mais estas duas pérolas, ainda relacionadas a este assunto:
1) "Se tivéssemos vendido parte da Amazônia ou se algum país tivesse se apossado de pelo menos um pedacinho dela, seríamos hoje muito mais felizes."
2) Quando eu era criança e fazia bagunça demais em casa, minha mãe costumava brincar dizendo que, se alguém me sequestrasse, ela daria 1 milhão a mais de resgate para o bandido ficar comigo. É mais ou menos o que deveríamos ter feito com o Acre."
Não acredita que alguém escreva isso? E que seja publicado? Abre na página 216!

Tá, tirando essas (e algumas outras) falhas, o livro vale a leitura, sim. Afirmo isso porque sei como a História (ainda) vem sendo ensinada, infelizmente, com base em velhos chavões e muitas vezes acriticamente. Vale, então, ler o livro criticamente, peneirando tudo com calma (e conhecimento) e não sair acreditando automaticamente em tudo o que se lê (se vale tal princípio para a 'história tradicional', digamos assim, vale para essas tentativas de rompimento com a mesma!).

3 comentários:

Goliath Whalietric disse...

Cara, eu vi uma entrevista dele no Jô,e achei muito interessante. Dá uma olhada no YouTube, tá fácil de achar. Quando ele falou do Zumbi, senti que logo logo vai ter muita gente reclamando... Parece um ótimo presente de Natal!

Anônimo disse...

Poise como eu te disse,eu tbm vi a entrevista (mais ou menos heheheh) e achei o cara meio maluco...me pareceu que ele tem conhecimentos não muito aprofundados...estranho sei la...
bjaooo
dessa

Mente inquieta disse...

Vale o presente, sim.

Posé, o negócio dele não é aprofundar...
bj